O aborto, a sexualidade e a diplomacia. Está tudo ligado

O aborto, a sexualidade e a diplomacia. Está tudo ligado

Bom dia!
Tudo pronto para mais um dia? As temperaturas sobem, mais ou menos ao mesmo ritmo que certas opiniões polémicas. Para ambas é preciso usar proteção – sendo certo que a informação é o melhor antídoto. Esta é a primeira newsletter Gender Calling. Quinzenalmente irei trazer-vos factos, números e recomendações de peças para ler/ver/ouvir, bem como todo o conteúdo novo desta plataforma. Espero que gostem!

Comecemos com factos:

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1 em cada 4 

Nos Estados Unidos, as mulheres que dão à luz em estados com leis anti-aborto têm mais probabilidade de viver abaixo do limiar da pobreza. As estatísticas do U.S. Census Bureau mostram-no: aproximadamente uma em cada 4 mulheres que deram à luz entre 2015 e 2020 em 13 estados com "leis gatilho" tem menos probabilidade de ter seguro de saúde e mais probabilidade de viver abaixo do limiar de pobreza, comparando com 1 em cada 5 mulheres em estados onde o aborto é legal. E, claro, a população negra e latina é aquela que tem mais probabilidade de não ter acesso a seguros de saúde. Dados que mostram que serão as mulheres (e as crianças) com menos condições económicas a sofrer com a anulação do direito ao aborto.

  • O que são "leis gatilho" (trigger laws)?
    São leis que só podem ser "ativadas" caso algo no contexto legal mude. Já há vários anos que alguns estados tinham aprovado leis internas para restringir o direito ao aborto, mas estas nunca chegaram a ser aplicadas porque a Roe v. Wade (lei federal) impedia a criminalização do aborto no país. Agora, com a reversão da Roe v. Wade pelo Supremo Tribunal, essas "leis gatilho" podem entrar em vigor.
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"Mudar as partes (sexuais) não te torna numa mulher"

"I try to say goodbye and I choke" – lembram-se desta música? É da artista Macy Gray, que também é a autora da frase em cima, dita em conversa com o jornalista britânico Piers Morgan. É a partir do minuto 6 que a questão surge: "Afinal, o que é uma mulher?". Para a cantora, só é mulher quem passa pelas experiências "específicas" de ser mulher desde cedo, "e ser mulher não se adquire com uma mudança física". Garante: "Se quiseres que te trate por 'ela', eu vou tratar-te por 'ela'. Mas isso não te torna uma mulher, nem fazer uma cirugia". Já começaram a soar os alarmes de cancelamento, os mesmos que soaram para J.K. Rowling e para o próprio Piers Morgan anteriormente. Reflexões?

Li e gostei


A primeira revista feminista americana fez 50 anos mas parece que os assuntos de capa não envelhecem – e são até bastante atuais. O aniversário da Ms. provoca um misto de sentimentos: "Sinto orgulho e sinto-me chateada como tudo", disse a escritora Gloria Steinem. Todos e todas sabemos porquê. Espreitem as capas:

Feminist magazine Ms turns 50: a beacon for rights, sex equality and Roe v Wade
The radical periodical has been fighting for feminism since 1972 – and now it’s as relevant as it ever was

Quase 1 em cada 5 pessoas diz não ser heterossexual, deixando espaço para várias categorias. Deve-se criar mais termos para novas identidades de género e orientações sexuais ou simplesmente não colocar nenhum rótulo? Este texto coloca boas questões.

Do You Have To Label Your Sexuality – & Is It Even Relevant?
Is it even a relevant question in 2022?

Gender Calling


Diplomata há 30 anos, milhares de decisões tomadas, vários países e vários desafios tanto na chegada como na partida. Afinal, ela é também mãe de 3 rapazes. Cristina Pucarinho é Cônsul-geral de Portugal em Londres e foi a primeira mulher vice-representante de Portugal na ONU. Entrevistei-a no seu gabinete, em Londres. É discreta e muito ponderada nas palavras, mas partilha muita informação que habitualmente não nos chega – inclusive sobre o processo de eleição de Guterres para secretário-geral das Nações Unidas. A conversa completa já está disponível em todas as plataformas de podcast. Excerto no YouTube:

Disponível está também a entrevista a Capicua, as respostas de Conceição Zagalo e de Daniela Bento ao questionário "De interesse público", o relato de Diogo Barros sobre ser homossexual em zonas conservadoras e a história da empreendedora de origem guineense Adiato Baldé.

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Boa quinta-feira! E bom fim de semana!

Catarina Marques Rodrigues
Jornalista e Fundadora Gender Calling