"Há mulheres que não saem de casa do marido porque não têm disponibilidade financeira"

"Há mulheres que não saem de casa do marido porque não têm disponibilidade financeira"
Palco da Central Tejo, onde decorreu a 1ª edição da Women Aging Summit, da qual o Gender Calling foi parceiro de media.

Qual é a importância de compreender os assuntos de finanças, com que temos de lidar, nas nossas vidas? “A literacia financeira transforma e salva vidas”, garante a especialista em finanças Bárbara Barroso, e este não foi um tema esquecido na Women Aging Summit -- um evento que quis promover um espírito de comunidade e desconstruir preconceitos associados ao envelhecimento feminino.

A literacia financeira pode ter o mesmo peso que a saúde, a menopausa ou a beleza — outros temas debatidos no evento — num envelhecimento empoderado das mulheres, garantem os/as especialistas presentes, que sublinham que a possibilidade de tomar as rédeas das finanças pessoais faz parte de uma vida com escolhas mais conscientes e autónomas.

Foi a economista Helena Sacadura Cabral quem abriu o painel dedicado à literacia financeira na Women Aging Summit, onde deu um aviso às cerca de 200 pessoas que assistiam na plateia (a grande maioria mulheres): “A mulher não deve delegar as finanças para ninguém nem depender de quem quer que seja”.

Num debate moderado pela jornalista Catarina Marques Rodrigues, falou-se de desigualdade de género e das assimetrias regionais onde se revelam diferentes padrões no que diz respeito à liberdade financeira.

O painel foi moderado por Catarina Marques Rodrigues, fundadora do Gender Calling. (Fotografia de Carina Barreto)

Acompanhada por Bárbara Barroso (especialista em finanças pessoais e fundadora do projeto MoneyLab), Fernando Ulrich (economista e presidente do conselho de administração do BPI) e João Raposo (gestor e fundador da equipa Reorganiza), Helena quis deixar claro que, tendo em conta que não se aprende literacia financeira na escola pública, “devemos aprender por nós próprios”: seja através da Autoridade Tributária e Aduaneira, de um banco ou dos recursos da internet. O que importa é aprender e não ter vergonha de perguntar “quantas vezes forem necessárias” até entender, usando a mesma postura quando se está a assinar um documento, aconselha Helena: “Devemos ler e compreender tudo antes de assinar”.

Apoiando-se, ainda, na sua experiência de vida de 88 anos, a escritora recomenda que se deixe tudo resolvido antes da morte “para não deixar o peso nos outros” e que se planeie a vida financeira para “o caso de ocorrências inesperadas”.

“A literacia financeira transforma e salva vidas.” Bárbara Barroso

Já Barbara Barroso quis adicionar outra perspetiva à conversa, que por vezes pode ser alheia a quem vive nas áreas metropolitanas: “Portugal não é Lisboa, Porto e as pessoas com quem nos damos. Há muitas mulheres pelo país que não conseguem sair de casa e tornar-se independentes do marido, porque não têm disponibilidade financeira", sublinha.

Perante este cenário, vivido por mulheres pelo país fora, ainda mais real se perceciona o valor da independência financeira, da literacia e das escolhas conscientes na vida de uma mulher.

O Gender Calling foi parceiro de media da Women Aging Summit, que decorreu na Central Tejo — a antiga central termoelétrica da região de Lisboa — de 10 a 12 de março.
Pode ler-se aqui o artigo sobre o painel Gender Calling Talks: "Há inclusão no envelhecimento? Nós sofremos com o fator idade logo a partir dos 25 anos!"